O Citigroup em seu estudo “Off the Beaten Path” de 2008, revelou que o Brasil perde 5% de sua produtividade com o trânsito. Outras instituições como a Secretaria de Transportes Metropolitanos do Estados de São Paulo estima perdas de 4,1 bilhões de reais e a Fundação Getúlio Vargas revela que as perdas são mais significativas, totalizando R$ 33,5 bilhões anuais. Estas discrepâncias revelam diferenças nas metodologias utilizadas, porém para qualquer paulistano, basta dirigir o carro pela cidade em qualquer horário da semana ou mesmo durante o final de semana para saber que são disperdiçados quase 3 horas diárias no trânsito .Tempo este que poderia ser utilizado não apenas para o consumo de produtos e serviços (shopping, cinema, educação, leitura, clubes, entretenimento e etc.) como também para o aumento na qualidade de vida (menos stress, mais tempo com a família / amigos).
Não abordarei os benefícios óbvios de um planejamento urbanístico adequado, das obras de infra-estrutura como Rodoanel, Metro Linha Amarela, Túnel Roberto Marinho – Imigrantes ou mesmos de propostas regulatórias paliativas. Veremos o que pode ser melhorado no gerenciamento das informações trânsito e algumas de suas oportunidades:
A CET/ SPTrans, em São Paulo, possui uma grande deficiência no monitoramento do trânsito uma vez que seus sensores, câmeras e sinaleiras inteligentes cobrem um malha ínfima das ruas e avenidas de São Paulo, gerando poucos dados para um gerenciamento ativo do tráfego.
Serviços de informações via rádio (ex: 102.1), dependem do uso de helicópteros, fazendo a cobertura apenas nas grandes avenidas e marginais. Os painéis luminosos com os dizeres: “300 km de lentidão – 15% das vias monitoradas” são totalmente inúteis já que não indicam nenhuma alternativa, não indicam a possível causa (ex: acidente Consolação altura 1200) e tão pouco adianta saber que tem apenas 10 km de lentidão porque se você conseguiu ler essa placa, é bem provável que você seja um devoto de Murphy e esteja bem no início destes 10km.
Os motoristas por outro lado, munidos de aparelhos celulares podem fornecer a situação do tráfego de toda a cidade e de toda sua malha de ruas e avenidas, bastando para isso que seu aparelho esteja ligado. Como? Todo celular digital comunica-se com uma antena de sua operadora (ex: Vivo, Claro, Tim) espalhados pelas cidades em locais fixos, sendo possível saber a quantidade e quais aparelhos estão “conectados” a cada antena e o quanto demoram para conectar-se a outra, indicando assim sua velocidade.
Adicionalmente aos celulares, algumas seguradoras (ex: Porto Seguro) possuem uma quantidade de veículos (carros, ônibus e motos) estatisticamente considerável com rastreadores que podem disponibilizar informações com mais detalhes e precisão.
Com base nestas informações e em modelos matemáticos é possível monitorar (sem infringir o “direito à privacidade”) e analisar toda a cidade em tempo real, indicando pontos com fluidez, pontos críticos e alternativas de trajetos via internet, painéis luminosos e via TMC (Traffic Message Channel). Inclui-se nesses modelos, fórmulas para compensar alguns desvios como proprietários de carros sem celular, desligados, motos ou mesmo de pedestres. É possível ainda adicionar modelos preditivos a fim de simular os impactos e benefícios de alterações das vias como direção da mão, utilização temporária de faixas extras em horários de pico, utilização de faixas exclusivas para motos (ex Sumaré), apontando com maior precisão quais alterações geram os maiores benefícios.
Como esta proposta envolve diversas entidades como CET/ SPTrans, operadoras de telefonia móvel, proprietários de celulares, etc e, seguindo modelos econômicos que preconizam que um bem coletivo, como ganho de produtividade e otimização de recursos pode ser o resultado de uma série de ganhos individuais, elenco algumas vantagens e oportunidades para cada uma dessas entidades:
CET/ SPTrans:
- Área de cobertura exponencialmente maior utilizando uma estrutura já implementada de celulares e rastreadores.
- Monitoramento e priorização de ações mais rápidas quando for apresentado uma situação anormal em alguma região / horário crítico.
- Indicação de caminhos alternativos e mais fluidos, através de seu website, painéis luminosos (agora com informações úteis) ou por TMC (Traffic Message Channel).
- Banco de dados para modelos preditivos com base histórica (ex: 1 ano de monitoramento) para simular o benefício ou não de uma alteração da mão de uma rua, adicionar uma faixa adicional em algumas vias em horário de pico e viabilidade de uma nova regulamentação
Operadoras:
- Prover informação de valor ao cliente
- Exploração do LBS (Location Based Services):
- Assinantes pré pagos poderiam optar por receber mensagens de anunciantes focados em sua região geográfica em troca de uma menor tarifa. (ex: discador ig X banners).
- Disponibilização de informação sob demanda de hotéis, lanchonetes e bares com telefones de contato e coordenadas GPS.
- Mídia para anúncios e campanhas direcionadas.
Outros:
- Google pode oferecer sua capacidade de processamento ociosa (cloud computing) e gerar conteúdo para as operadoras em conjunto com Google Maps
- Agências de propoganda e anunciantes podem gerar anuncios mais focados de acordo com a região geográfica e de algum evento específico.
- Exemplo: Nos monitores equipados com GPS dos Radio-Taxis (cada vez mais utilizados) além do mapa, e detalhamento sobre o próximo chamado, pode ser mostrado um conteúdo televisivo para o passageiro com uma propaganda-LBS em um banner de acordo com a região que está sendo trafegada. “Promoção 20% off até domingo na loja XXX ao lado” . Isso compensaria também a perda de receita com a impossibilidade de veicular com propagandas nos taxis em São Paulo (devido à lei Cidade Limpa).
O Brasil possui inúmeros exemplos de uso de sistemas de informação que são exemplos para o mundo todo como o sistema de votação com resultados de todo território nacional no mesmo dia, sistemas bancários de vanguarda com transferências em tempo real entre bancos, internet banking desde 1995 e sistema de Imposto de Renda entregues em sua grande maioria pela internet.
Com tantos benefícios individuáis como coletivos, podemos também dar o exemplo em como melhorar a utilização da informação no gerenciamento do trânsito e, consequentemente, diminuir a perda de produtividade/ competetividade de nossa economia.
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